sexta-feira, 13 de abril de 2012

Interpretação do soneto "Amar!" de Florbela Espanca

Amar! 
Disponível em: medhatter.blogspot.com
Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: aqui... além...
Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente...
Amar!  Amar!  E não amar ninguém!

Recordar?  Esquecer?  Indiferente!...
Prender ou desprender?  É mal?  É bem?
Quem disser que se pode amar alguém
Durante a vida inteira é porque mente!

Há uma primavera em cada vida:
É preciso cantá-la assim florida,
Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar!

E se um dia hei-de ser pó, cinza e nada

Que seja a minha noite uma alvorada,
Que me saiba perder... pra me encontrar...

Florbela Espanca

Soneto e Vida de Florbela

Disponível em: revistacult.uol.com.br
Flor Bela de Alma da Conceição Espanca (nome de batismo), nasceu em 8 de dezembro de 1894 na cidade de Vila Viçosa em Portugal. Filha de Antônia da Conceição Lobo e João Maria Espanca que era casado com Mariana do Carmo Ingleza. Por Mariana ser estéril, João teve dois filhos com Antônia, Flor Bela e Apeles, que não foram reconhecidos paternalmente e foram criados por Mariana, que posteriormente tornou-se madrinha dos meninos. A curta e agitada vida de Florbela se resume na sua inquietação, sofrimento e nos seus escritos voltados para a erotização, feminilidade, panteísmo e patriotismo. Suas obras foram: poesia, contos, um diário e epístolas, sem contar os vários romances que traduziu e a sua colaboração em diversas revistas e jornais.
Florbela entrou na escola primária em 1899 e escreveu seus primeiros textos literários em 1903. Casou-se 3 vezes e no primeiro casamento sofreu um aborto involuntário, o qual fez com que aparecesse os primeiros sintomas de problemas neuróticos. Cursou direito, mas interrompeu os estudos na faculdade e teve que dar aulas particulares de português para sobreviver.
Com a morte do seu irmão os problemas mentais aumentaram e a poetisa tentou suicídio 3 vezes e, ao saber o diagnostico de um edema pulmonar, perdeu a vontade de viver e na quarta tentativa de suicídio não resistiu. Flor Bela Lobo faleceu em Matosinhos (Portugal) no dia do seu aniversário em 1930, quando tinha apenas 36 anos.
Flor queria publicar o livro “Charneca em Flor”, mas não foi fácil encontrar um editor. Tempos depois Guigo Batelli se interessou na publicação, mas um mês antes do livro ser publicado pela Livraria Gonçalves do Coimbra, Flor cometeu suicídio. Nessa obra estão impressos as recordações da vida de Florbela, sendo considerada a publicação mais sincera e retrata a fase mais difícil da vida da poetisa.
É neste livro que está incluído o soneto “Amar!”, o qual tem 14 versos, 2 quartetos e 2 tercetos, totalizando 4 estrofes. É possível verificar, escandindo o poema, que os versos são decassílabos, pois, respectivamente, o primeiro e ultimo versos do poema são separados da seguinte forma: Eu/que/ro a/mar/ a/mar/ per/di/da/mente e Que/ me/ sai/ba/ per/der/ pra/ me/ en/contrar, para isso, só é necessário fazer a contagem desses dois versos. A poetisa segue os padrões rítmicos com ABAB na primeira estrofe, ABBA na segunda estrofe, CCD nas terceira e quarta estrofes. Observando esses seguimentos e o tema abordado por Flor, é notável que ela escreveu com base nas características neorromânticas, período que permitiuque os autores se espelhassemno romantismo .
Só pelo título do poema percebe-se que o amor é o tema abordado.  O tempo verbal é o presente (“quero amar”), e em alguns momentos leva do presente para o futuro (“E se um dia hei-de ser pó”). Flor começa o poema com a palavra “Eu” entende-se que ela narra algo que sente, que vem dela, uma mulher, e por isso pode ser levado em conta que é um certo dom-juanismo feminino.
Na primeira estrofe, Flor, escreve o amor de tal forma que se torna algo extraordinário, magnífico e amar sem restrições é algo tão necessário que leva à vontade de viver intensamente. Como se proferisse, aproveitar intensamente os momentos amando, e ainda, eu amo perdidamente então ame perdidamente também.
Há um momento de contradição, quando ela banaliza o amor, a portuguesa sofreu tanto que ama de qualquer jeito, o verso “Amar só por amar” exemplifica essa afirmação.Também há uma liberdade no poema, a qual expressa amar livremente e não ficar presa a algo ou a alguém. Esse amor às vezes é insignificante que chega ao ponto de amar as pessoas e ao mesmo tempo não amar, ao citar “Amar! Amar! E não amar ninguém!”.
Pode-se dizer que a palavra amar iniciado com maiúscula é uma empolgação da poetisa, mas depois é como se ela voltasse a “realidade” e percebesse que já viveu uma vida cheia de amores e que não estava presa a nenhum, então entra o terceiro “amar” iniciado com letra minúscula. Nessa estrofe, a palavra amar é repetida 5 vezes. A presença de iniciais maiúsculas nas palavras “Este”, “Aquele”, e “Outro”, entende-se que realmente se refere a pessoas importantes que passaram na vida dela, mas sem certo compromisso, podem até se referir aos seus três casamentos.
Na segunda estrofe, não interessa recordar ou esquecer, o que importa é amar aqui e ali sem se prender a apenas um amor.Percebe-se que há uma redução na repetição da palavra amar, a qual ela cita apenas uma vez, na qual se refere que não tem como amar alguém durante toda a vida, quem falar isso falta com a verdade. Flor defende que o amor não é algo que prende, mas algo que liberta. E ela faz um convite ao leitor para cantar à vida.
Seguindo para a terceira estrofe, começa assim: “Há uma primavera em cada vida”. Levando em conta que a primavera se refere à estação, é a época que mais floresce do ano e é a estação do amor, por isso, todos têm um momento que mais flora, que ama de forma mais intensa. E levando em conta a primavera como uma fase da vida, pode-se dizer que é a faze juvenil, a fase que mais se ama. Então, esse delirante florescimento se dar na juventude.
É preciso cantá-la assim florida”, quem canta é porque está alegre, cante à primavera, cante ao amor mesmo, se houver tristeza no coração, pois a nossa voz foi dada por Deus para ser usada nas canções. Os jovens devem cantar, pois é nessa fase que o amor está florescendo.
Na quarta e ultima estrofe é alertado que se deve aproveitar porque um dia a morte vem e não vai adiantar mais querer amar. A portuguesa se sentia atraída pela morte, mas aproveitava a vida para amar. E ainda, Flor tem uma capacidade de amar tão grande, mas não é correspondida e por isso que ela vive amando um e outro, para um dia encontrar o amor que a entenda.
Flor tornou-se conhecida, pois, a maioria de sua poesia eram sonetos que falavam da solidão, tristeza, saudade, sedução, desejo, morte e amor, tema que prevalecia. Tempos depois de sua morte, alguns poetas homenagearam Florbela Espanca, como Manuel da Fonseca no poema “Para um poema a Florbela” e Fernando Pessoa em “À memória de Florbela Espanca”.  Ela é considerada como a grande figura feminina da Literatura Portuguesa no século XX.

Bibliografias

ESPANCA, Florbela, 1894-1930. Poemas de Florbela Espanca / estudo introdutório, organização e notas de Maria Lúcia Dal Farra. – São Paulo: Martins Fontes, 1996.

MOISÉS, Massaud. A literatura portuguesa. – 19 ed. São Paulo: Cultrix, 1983.

MOISÉS, Massaud. A Literatura Portuguesa através dos textos. 15 ed São Paulo: Cultrix, 1985.

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